A Secretaria-Geral Ibero-americana (SEGIB), junto com a ONU Mulheres e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), apresentou hoje o relatório “Mulheres em ciência, tecnologia, inovação e digitalização na Ibero-América”. O documento destaca que, apesar dos avanços alcançados nas últimas décadas, a participação das mulheres continua limitada nos setores com maior potencial de inovação, influência e desenvolvimento econômico na região.
O estudo mostra que cada vez mais mulheres têm acesso ao ensino superior e ao sistema científico, mas que as lacunas de gênero não desaparecem, apenas assumem novas formas nas etapas de especialização, liderança e tomada de decisão, especialmente nas áreas tecnológicas e na economia digital.
Os números são contundentes: as mulheres representam 60% das pessoas graduadas universitárias na Ibero-América, mas apenas 10% nas carreiras STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Na pesquisa, elas ocupam 43% do total de profissionais, mas sua presença cai para menos de 30% nas áreas tecnológicas e para 28% entre as inventoras de patentes.
Durante a apresentação, o Secretário-Geral Ibero-americano, Andrés Allamand, fez referência ao vínculo que o estudo tem tanto com os trabalhos realizados pelos 22 países em prol de uma sociedade mais igualitária quanto com a Carta Ibero-americana de Princípios e Direitos nos Ambientes Digitais. “A Carta é contundente ao estabelecer que é primordial promover políticas públicas voltadas à redução da lacuna digital de gênero e garantir a participação das mulheres em condições de igualdade na transformação digital”, ressaltou.
Nesse sentido, a Embaixadora de Gênero em Educação da OCDE, Marta Encinas-Martín, lembrou que, segundo a avaliação PISA da OCDE, nos países da ALC apenas 14% das meninas de 15 anos aspiram trabalhar em uma ocupação relacionada às STEM, em comparação com 26% dos meninos. “Nas carreiras vinculadas especificamente à tecnologia, menos de 3% das meninas manifestam aspirar a elas”, assinalou.
“Promover a inclusão das mulheres, jovens e adolescentes em todos os ambientes de aprendizagem, apoiar estratégias transformadoras que ajudem a eliminar essas brechas de gênero no acesso à era digital e realizar ações para que essa tecnologia realmente promova e facilite sua participação na ciência e na inovação e nos próprios desenvolvimentos tecnológicos é parte da motivação que levou as três instituições a trabalharem nesta sistematização”, explicou a Diretora Regional Adjunta da ONU Mulheres para as Américas e o Caribe, Cecilia Alemany, durante sua intervenção por vídeo.
No âmbito digital, o relatório aponta que a brecha de acesso diminuiu de forma significativa em diversos países, mas persistem diferenças importantes no uso, no desenvolvimento de habilidades avançadas e na presença em espaços de liderança. As mulheres participam menos de atividades como programação, banca digital ou comércio eletrônico, e continuam sub-representadas nas equipes que projetam, gerenciam e regulam as tecnologias que moldarão o futuro do trabalho e da vida cotidiana.
“A desigualdade de gênero na ciência e na tecnologia não é apenas uma questão de justiça, mas também uma oportunidade perdida para a inovação e o desenvolvimento sustentável”, destaca o relatório, assinado por Isabel Álvarez, Florencia Barletta, Cipriano Quirós e Diana Suárez.
O estudo alerta ainda que as políticas públicas da região mostram uma incorporação limitada da perspectiva de gênero, com poucos mecanismos operacionais, orçamentos específicos e avaliações de impacto. Por isso, recomenda uma abordagem integral que combine educação precoce em STEM, formação digital para mulheres e meninas, incentivos para a participação feminina na pesquisa e no empreendedorismo tecnológico e marcos normativos que garantam a igualdade real na tomada de decisões.
“A região já conta com diagnósticos sólidos. O que nos cabe agora é acelerar a transformação. Para que a transição digital não amplie desigualdades, mas sim fortaleça democracias, economias e sociedades mais justas. Se as mulheres não estiverem plenamente presentes na ciência, na tecnologia e na inovação, a revolução digital simplesmente não será ibero-americana. Nosso compromisso é garantir que ela seja”, afirmou a Secretária para a Cooperação Ibero-Americana, Lorena Larios.
O relatório “Mulheres em ciência, tecnologia, inovação e digitalização na Ibero-América” está alinhado ao compromisso da Secretaria-Geral Ibero-americana (SEGIB) de promover políticas públicas que integrem a igualdade de gênero como eixo do desenvolvimento sustentável, da inovação e da coesão social na região. Ele também reflete os trabalhos da Carta Ibero-americana de Princípios e Direitos nos Ambientes Digitais, aprovada na XXVIII Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado pelos 22 países, com o objetivo de reduzir as lacunas de gênero na digitalização e garantir que a transformação tecnológica não reproduza desigualdades estruturais.
Pode descarregar o Resumo Executivo do relatório

