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Ibero-América propõe as questões de um presente fragmentado para enfrentar um futuro compartilhado

O primeiro Congresso Futuro Ibero-americano abre com um chamamento para reforçar a democracia, a cooperação e a inovação humanista na região

Inauguración Congreso Futuro Iberoamericano

A primeira jornada do Congresso Futuro Ibero-americano transformou Madri no epicentro do pensamento científico, político e cultural da região, com debates que abordaram o futuro da democracia, o desafio das transformações digitais, o papel das cidades e a proteção dos neurodireitos.

O encontro, organizado pela Secretaria-Geral Ibero-americana (SEGIB) e pela Fundação Encontros do Futuro (FEF), reúne durante dois dias líderes políticos, cientistas, jornalistas e pensadores para refletir sobre o papel da Ibero-América em um mundo marcado pela aceleração tecnológica, a emergência climática e os desafios democráticos que definem um presente fragmentado.

Uma abertura para “pensar o futuro ocupando-nos do presente”

Durante a sessão inaugural realizada na Casa de América, a secretária de Estado para a Ibero-América, Susana Sumelzo, alertou sobre um contexto de mudanças rápidas e desigualdades crescentes, apelando à “responsabilidade como proposta coletiva para o progresso rumo à sustentabilidade, à digitalização, à igualdade e à inclusão”.

Guido Girardi, criador do Congresso Futuro no Chile, advertiu sobre o impacto da inteligência artificial como “substituto das capacidades humanas” e defendeu a necessidade de preservar a humanidade e a democracia diante do avanço do pós-humanismo e de um conceito de liberdade no qual “nada está acima da vontade e do desejo individual em detrimento da noção do coletivo e do comunitário”.

O secretário-geral ibero-americano, Andrés Allamand, instou a enfrentar a aceleração tecnológica com capacidade de ação coletiva: “Uma sociedade que assume que não pode influenciar o seu futuro é uma sociedade inoperante.”

Multilateralismo e meios: democracia frente ao ruído e a desinformação

A manhã do Congresso girou em torno dos desafios da governança global e da qualidade democrática na era digital.

Josep Borrell, ex Alto Representante da União Europeia para Assuntos Exteriores e Política de Segurança, destacou a necessidade de “recuperar o apreço pela democracia em um debate público mergulhado em um clamor que fomenta o desapego pelo coletivo”.

Na mesma linha, a ex-ministra argentina Susana Malcorra defendeu um multilateralismo renovado e afirmou que a Ibero-América dispõe do talento necessário para liderar umas “Nações Unidas 2.0”, capazes de compreender a complexidade atual.

O painel também contou com a intervenção em vídeo de duas candidatas a ocupar essa Secretaria-Geral da ONU: a dominicana Rebeca Grynspan, secretária-geral da UNCTAD, e Michelle Bachelet, ex-presidenta do Chile.

O segundo painel da manhã analisou o futuro dos meios de comunicação e da sociedade digital. Daniel Hadad, do InfoBae, advertiu que “a democracia tal como a conhecemos está em xeque, em parte devido às novas tecnologias”, enquanto Clara Jiménez, jornalista especialista em desinformação, alertou que as forças democráticas começam a aceitar a desinformação “como uma ferramenta viável, e retroceder será algo complexo”.

O filósofo José María Lassalle pediu um modelo ibero-americano de inteligência artificial capaz de gerir a complexidade social, denunciando o “extrativismo dos dados humanos” do capitalismo algorítmico.

Cidades inclusivas, futuro do trabalho e neurodireitos

À tarde, o debate concentrou-se nas cidades, nos desafios laborais do futuro e na defesa dos neurodireitos.

O prefeito de Madri, José Luis Martínez-Almeida, definiu uma cidade inteligente como aquela “onde as pessoas querem viver pelas oportunidades que oferece”, apostando na mobilidade sustentável, na segurança e em espaços públicos de qualidade.

O diálogo reuniu o escritor e arquiteto Pedro Torrijos -que reivindicou o poder das histórias para contar as realidades urbanas- a catedrática Izaskun Chinchilla – defensora do urbanismo tático que, na América Latina, conseguiu que pequenas intervenções no espaço público transformassem a vida das comunidades — e a arquiteta Inés Sánchez de Madariaga, pioneira em compreender o urbanismo a partir da perspectiva de gênero e dos cuidados, observando como homens e mulheres vivenciam as cidades de acordo com seus papéis.

O painel também incluiu intervenções em vídeo de Jorge Macri, chefe de Governo de Buenos Aires e Claudia López, ex prefeita de Bogotá.

Economia digital e futuro do trabalho

A jornada prosseguiu com o painel sobre “A economia digital e o futuro do trabalho”, moderado pelo embaixador do Chile na Espanha, Javier Velasco.

Participaram dele a diretora de Estratégia Global de Assuntos Públicos da Telefónica, Trinidad Jiménez, que destacou seu tecno-otimismo: “A tecnologia amplia nossas capacidades, cria oportunidades e, quando bem utilizada, desenvolve o pensamento crítico e os seres humanos livres”; o diretor de Políticas Públicas e Relações Institucionais do Google Espanha e Portugal, Miguel Escassi, que afirmou que “é possível combinar inovação, inclusão, responsabilidade e impacto social”; e a cofundadora da Kaudal, organização voltada à transformação digital das empresas, Ana María Martínez, que observou que “52% do tempo de trabalho é gasto em tarefas automatizáveis que nos dariam mais liberdade para focar em atividades mais criativas”.

Além disso, o presidente do think tank Fundar, Sebastián Ceria, ressaltou que uma das razões pelas quais a Ibero-América é a região mais desigual do mundo é “um mercado de trabalho que oferece poucas oportunidades de mobilidade ascendente”.

Neurodireitos

Na abertura do último painel, “Neurodireitos na era da Inteligência Artificial”, o neurocientista, escritor e divulgador argentino Mariano Sigman lembrou que, em virtude da tecnologia, “aquilo que nos torna humanos e o direito de ser quem somos está agora em questão”. No entanto, Sigman é favorável a “nos estendermos por meio de certas tecnologias que não impliquem substituição nem comprometam o livre-arbítrio”.

Uma questão retomada por Guido Girardi ao afirmar que “estamos nos aproximando da modificação daquilo que nos faz humanos porque —alguns milionários do Vale do Silício, que olham para seus interesses e não para as consequências— estão começando a manipular nosso cérebro. Daí a necessidade de criar uma lei de Neurodireitos”.

Moderado por Natalia Martos, o painel contou com as intervenções de Alejandra Lagunes e Camila Pintarelli, e com a participação em vídeo do neurobiólogo Rafael Yuste, que encerrou o painel explicando que “os neurodireitos são direitos humanos: privacidade mental, para que o conteúdo da mente não seja manipulado por dispositivos neurotecnológicos; direito à identidade pessoal; acesso equitativo às tecnologias de aumento; e direito à proteção contra vieses, entre outros — e devem estar integrados aos corpos jurídicos dos países”.

Na sessão da tarde também participaram o presidente da MAPFRE, Antonio Huertas, abordando o desafio do envelhecimento populacional, e a diretora comercial de Desenvolvimento de Rede e Alianças da Iberia, María Jesús López Solás, que tratou do futuro da aviação.