INOVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA IBERO-AMÉRICA
2021
PROPÓSITO
A inovação no desenvolvimento sustentável da Ibero-América é de vital importância no momento de afrontar todos os desafios socioambientais que foram amplificados por causa da pandemia. A situação sanitária pôs em manifesto nossos desafios como região, a importância da cooperação entre países e da conexão entre setores e atores.
O II relatório do Observatório La Rábida sobre Inovação para o Desenvolvimento Sustentável na Ibero-América navega ao longo de alguns dados cruciais que nos situam nestes desafios, e sintetiza algumas das propostas mais inovadoras sobre desenvolvimento sustentável que propõem soluções adaptadas a responder à atual chamada de ação, urgência e transformação.
Além disso, aprofunda de maneira especial naqueles setores que podem chegar a ter um efeito trator da economia e impulsionar a sustentabilidade da região, tais como a regeneração de ecossistemas naturais com todas as soluções baseadas na natureza que acarreta, a economia circular, o turismo e os sistemas alimentares.
QUAL DESENVOLVIMENTO DEVEMOS MANTER? AS EVIDÊNCIAS ATUAIS
A Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA), através do relatório “Fazer as pazes com a natureza”, pede atuar urgentemente nas “três emergências planetárias”: mudança climática, perda de biodiversidade e contaminação. Além disso, estes são três dos nove limites planetários que já superamos.
Outros dois grandes aprendizados desta pandemia foram os desafios que temos como região, a importante conexão entre países, setores e atores, e o vínculo iniludível que temos com a natureza. O Relatório Dasgupta afirma que o capital natural é nosso ativo financeiro mais importante, e que nestes últimos 30 anos perdemos 40% deste capital natural, pondo em perigo a base de nossa economia e sociedades (Dasgupta, 2021).
As nossas economias, meios de subsistência e bem-estar humano dependem diretamente de nosso bem mais precioso: a natureza.Revisión Dasgupta, 2021
MUDANÇA CLIMÁTICA
Apesar dos compromissos em matéria de mudança climática e redução de emissões, a tendência atual na Ibero-América nos levaria a um incremento de temperaturas de 4.7 graus, muito longe do objetivo de não superar os 1.5 graus.
Caso sigamos assim, os efeitos da mudança climática incidirão diretamente nas possibilidades das economias. Se continuamos com essa tendência, e como consequência da subida de temperaturas, há países na região que podem chegar a ver cair seu PIB até em mais de 28 pontos em 2050, como seria o caso do Brasil, do Paraguai e de toda a Centro-América (CEPAL, 2020).
BIODIVERSIDADE
Nos últimos 30 anos perdemos 40% da biodiversidade no mundo (Dasgupta, 2021). A Ibero-América é a região do mundo com maior perda de biodiversidade. As regiões tropicais da América Latina diminuíram em 94% o "índice planeta vivo", devido à alteração do uso do solo, a sobre-exploração, a mudança climática e as espécies invasoras.
CONTAMINAÇÃO
A contaminação atmosférica pode chegar a causar até 7 milhões de mortes prematuras no mundo, ao ano. O uso excessivo de fertilizantes na agricultura intensiva provoca contaminação de rios e oceanos, sendo uma ameaça à nossa saúde através da cadeia alimentar.
COMO CONSEQUÊNCIA DA MUDANÇA CLIMÁTICA
-
> A produção agrícola já está diminuindo, significativamente, em algumas zonas da região. Costa Rica, El Salvador e Nicarágua poderiam reduzir em até 40% sua produção agrícola em 2050.
-
> A disponibilidade de água limpa e segura diminui como resultado da perda de glaciares e a variabilidade das precipitações afetando seriamente setores como a agricultura e a energia.
-
> Os oceanos e costas ibero-americanas são altamente vulneráveis à mudança climática e, caso sigam as tendências atuais, a totalidade do ecossistema de corais nas zonas costeiras do Caribe pode ficar colapsado para 2050.
-
> A subida do nível do mar representará a redução da atividade turística, danos em infraestruturas costeiras e deslocamentos de população nos países costeiros da Ibero-América.
-
> As mulheres, a infância, as pessoas idosas e as famílias agricultoras são as populações mais vulneráveis perante os efeitos da mudança climática.
DESBORDANDO OS LIMITES
O dia de desbordamento é o dia do ano no qual nossa demanda de recursos que proveem da natureza excede o que esta é capaz de regenerar nesse ano. Desde os anos 80 fomos acumulando um deficit, de maneira que os recursos naturais que usamos em excesso diminuem a capacidade para outras espécies ou para gerações futuras.
Manter a saúde do planeta e o bem-estar da sociedade passa, nestes momentos, de maneira iniludível por dar respostas inovadoras a todos os níveis, que sejam capazes de restaurar e regenerar as capacidades dos ecossistemas que fomos perdendo ao longo das últimas décadas.
Em 2021, o Equador e a Nicarágua alcançarão o dia da sobrecapacidade em dezembro, enquanto que Portugal, Chile e Espanha estarão em deficit com a natureza a partir de maio.
AGENDA AMBIENTAL IBERO-AMERICANA
A Agenda Ambiental Ibero-Americana surgiu no contexto da X Conferência Ibero-Americana de Ministros do Ambiente, promovida pelo Principado de Andorra como Secretaria Pro-Tempore, e realizada em setembro de 2020. Esta Agenda consolida as parcerias estratégicas com organismos e redes que já estavam em funcionamento na região, com o objetivo de dar continuidade à dimensão ambiental nas Cimeiras de Chefes de Estado e de Governo.
A Declaração das Ministras e Ministros do Ambiente, subscrita nessa Conferência de setembro de 2020, alcança uma visão sistémica e territorial dos desafios socioambientais, tal como também o faz este relatório. Consulte a Declaração
URGÊNCIA DE INOVAÇÃO TRANSFORMADORA
Manter a saúde do planeta e o bem-estar da sociedade passa, nestes momentos, de maneira iniludível por dar respostas inovadoras a todos os níveis, que sejam capazes de regenerar as capacidades que fomos perdendo ao longo das últimas décadas.
Pensar de maneira diferente e inovar transformando é fundamental em contextos que sofreram mudanças como as que vivemos na Ibero-América, saindo de uma pandemia. Encontramo-nos dentro de uma transição socioecológica entre dois regimes muito diferentes que necessita de todas as ferramentas possíveis, incluída a inovação transformadora, para passar a outro horizonte.
A inovação é uma dessas ferramentas principais, que aporta uma direção diferente e se adapta a distintos contextos. Com essa lógica, no relatório foi ampliada informação sobre:
INOVAÇÃO TRANSFORMADORA
INOVAÇÃO PÚBLICA:
O modelo do Hexágono da Inovação Pública (HIP) ajuda a visualizar e trabalhar seis vetores para acelerar a inovação no âmbito público: OPEN (aberto), TRANS (transversal, transdisciplinar), FAST (ágil), PROTO (prototipagem, modelagem), CO (colaborativo) e TEC (tecnológico).
INOVAÇÃO CIDADÃ:
São iniciativas que exploram modos alternativos de abordar os desafios socioecológicos e canalizam a energia criativa coletiva. Aspiram transformar os modos de produção, consumo, mobilidade ou alimentação, entre outros, para fazê-los mais resilientes.
INOVAÇÃO SOCIAL:
A inovação social responde a uma solução nova, mais efetiva, eficiente, sustentável ou justa a um problema social ou ambiental. Este tipo de inovação escapa aos benefícios individuais e entende a sociedade como um todo, satisfazendo necessidades sociais e criando relações de colaboração.
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA:
As tecnologias digitais podem facilitar a consecução da Agenda 2030, mas também podem amplificar os problemas de desigualdade e as brechas existentes na Ibero-América, o que deve ser considerado desde o projeto de soluções inovadoras.
INOVAÇÃO INDÍGENA E ANCESTRAL:
A riqueza da sabedoria humana que foi acumulada por séculos em nossa civilização, assim como a que reside nas culturas indígenas, se convertem em fortes motores para inspirar inovação e transformação no presente.
INOVAÇÃO NATURAL: BIOMÍMESE
A natureza tem mais de 3.800 milhões de anos de evolução inovando, prototipando e otimizando processos e projetos. A biomímese propõe soluções inovadoras a desafios humanos baseadas em modelos que já se deram na natureza, imitando ou inspirando-se em suas soluções e projetos.
MODELOS INOVADORES PARA MUDANÇAS SISTÊMICAS
DESENVOLVIMENTO REGENERATIVO
Para reverter as consequências da perda acelerada de capital natural que fomos provocando, necessitamos impulsionar culturas regenerativas, que mudem a visão de um mundo fragmentado a um modelo mental de sistemas em sua totalidade. Nesse sentido, a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma ponte fundamental rumo a esta regeneração em todas as esferas (Wahl, 2020).
A perda de biodiversidade e a mudança climática são dois dos nove limites planetários que não devemos superar para assegurar a habitabilidade do planeta. A economia donut aprofunda nesse espaço seguro e justo no qual podemos nos desenvolver assegurando as necessidades de toda a sociedade, mas sem superar os limites marcados pelos ecossistemas naturais (Raworth, 2017).
O desenvolvimento regenerativo apresenta a necessidade de mudar de uma visão do mundo fragmentada a um modelo mental de sistemas em sua totalidade.
(Wahl, 2016)
SETORES QUE IMPULSIONAM A INOVAÇÃO E A RECUPERAÇÃO
A transformação dos sistemas alimentares e a restauração dos ecossistemas naturais foram identificados como setores fundamentais para responder à atual situação de transição socioecológica devido ao seu forte impacto positivo nas sociedades e na economia, bem como pela sua capacidade de resposta à tripla emergência ambiental. A economia circular ligada a uma mudança no modelo de produção e consumo é a terceira solução com maior impacto.
Um impulso maior destes seis setores, com oportunidades de inovação transformadora e de regeneração, pode ajudar a região a avançar na Agenda 2030 e responder aos desafios gerados pelo coronavírus.
Não há forma de enfrentar os desafios destes setores sem inovação, sem pensar no mundo de outra maneira e sem colocar toda a nossa criatividade ao serviço dos grandes desafios e do ser humano. Esta é a abordagem das missões, herdeira das “moonshots” que identificam estes grandes desafios e uma forma de os enfrentar que também leve em conta o uso da tecnologia necessária para acelerar esse impacto positivo e uma visão diferente (Mazzucato, 2019).
A bordagem orientada para missões, encaminha-se para a inovação transformadora através de metas audazes e inspiradoras que respondem a grandes desafios e graças às quais se favorecem as parcerias públicoprivadas, a participação cidadã.
ANEXOS
-
Uma visão da dimensão ambiental dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na Ibero-América.
Relatório conjunto com PNUMA
Este anexo profundiza en cuatro áreas: emisiones y sus impactos socioeconómicos; desacoplamiento de la economía; áreas protegidas y gobernanza ambiental; e inversión verde. En todas ellas las dimensiones social, económica y ambiental se entrelazan, identificándose en estas páginas los ODS relacionados con cada uno de esos temas y mostrando los datos disponibles más relevantes.
A dimensão ambiental está presente em todos os ODS e relaciona-se com as questões fundamentais da luta contra a pobreza, erradicação da fome, saúde, educação, igualdade de género, água e saneamento, energia, crescimento económico, assentamentos humanos, consumo e produção sustentáveis, mudança climática, oceanos e ecossistemas terrestres.
O esforço é agora mais necessário do que nunca, quando vemos que as contribuições da natureza para as pessoas são fundamentais para assegurar a saúde e o bem-estar humano, criar oportunidades económicas e fortalecer a resiliência social e ecológica, tanto para as atuais gerações quanto para as futuras.
- Iniciativas de Inovação para o Desenvolvimento Sustentável na Ibero-América
A seguir, descrevem-se brevemente 50 das 100 iniciativas selecionadas, por estarem já a operar com uma abordagem de inovação transformadora capaz de promover o desenvolvimento regenerativo na região.
Para ver a lista completa e propor novas iniciativas, pode consultar www.huelvaamerica.es/es/observatorio
A abordagem das missões e o trabalho em parcerias multiagente e multinível dentro da região ajudará a co-criar soluções inovadoras para que esses setores sejam capazes de promover um desenvolvimento regenerativo, transformar a realidade ibero-americana e assim recuperar o caminho das metas de desenvolvimento sustentável.