As grandes empresas da América Latina têm demonstrado uma importante capacidade de resiliência em termos de expansão no exterior e de investimentos estrangeiros diretos (IED), apesar da região ter sido uma das mais golpeadas do mundo pela pandemia de COVID-19, tanto na esfera sanitária como na socioeconômica.
Esta é uma das principais conclusões do novo relatório “Global LATAM 2020 – Séries Investimentos Estrangeiros”, elaborado em conjunto pela Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB) e o ICEX Invest in Spain, apresentado hoje em Madrid.
De acordo com o relatório, os IED emitidos pela América Latina diminuíram 90% em 2020, mas esta queda se deve principalmente ao fato de que as corporações do Brasil (a maior economia da região) repatriaram mais fundos de suas filiais no exterior do que investiram nelas, sem os quais a queda teria sido de apenas 2%.
De fato, em outros países latino-americanos, como Argentina, Chile e Colômbia, a contração dos IED foi relativamente leve ou nem mesmo ocorreu, como no caso do México, onde se calculam maiores investimentos no exterior em 2020 do que em 2019.
Em termos históricos, os IED de multinacionais da América Latina mostraram um crescimento sólido na última década, apesar dos retrocessos causados pela COVID-19 no ano passado. As empresas regionais já contam com 750 bilhões de dólares de stock de investimentos além de suas fronteiras, o que representa um aumento de quase 70% em relação a 2011.
Os principais destinos dos investimentos das empresas latinas têm sido, por ordem de importância, a própria região, os Estados Unidos e, dentro da União Europeia, Espanha e Portugal.
Como mais um sinal de esperança, o relatório “Global LATAM 2020” destaca que o acesso das empresas às fontes de financiamento sofreu pouco durante a pandemia, o que eventualmente permitirá que elas retomem os seus projetos de investimento adiados pela crise atual.
Da mesma forma, o relatório afirma que a tecnologia e a sustentabilidade se tornaram importantes motores dos IED latino-americanos.
Por um lado, cada vez mais fundos de capital privado (venture capital) estão sendo destinados para serviços em nuvem, softwares personalizados, aplicativos móveis e meios de comunicação.
Por outro lado, a sustentabilidade se tornou um fator determinante para abrir novos mercados e garantir a expansão internacional das multinacionais latino-americanas devido à crescente importância que lhe é atribuída por governos, consumidores e, principalmente, pelos mercados financeiros. O relatório cita como exemplos a empresa brasileira Natura e a mexicana Cemex.
“As empresas da América Latina estão convocadas a desempenhar um papel protagonista na recuperação da pandemia de COVID-19, e há várias razões para o otimismo. Uma delas é que a região teve uma ‘inovação forçada’ durante esta crise. Do ecommerce ao elearning, da telemedicina ao teletrabalho, vimos anos de progresso em apenas alguns meses. Outra razão é que a pandemia catalisou a transição verde. Temos empresas pioneiras no setor com grande potencial de expansão e uma população consciente e preocupada com as mudanças climáticas”, afirmou a Secretária-Geral Ibero-Americana, Rebeca Grynspan.
“Global LATAM” é o único relatório com dados atualizados sobre os IED da América Latina e já conta com três edições. A sua apresentação esteve a cargo de Grynspan e da Conselheira Delegada do ICEX, María Peña Mateos.
O lançamento do relatório faz parte dos eventos que antecedem a XXVII Cimeira Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, a ser realizada em Andorra no dia 21 de abril com o tema “Inovação para o desenvolvimento sustentável – Objetivo 2030. A Ibero-América enfrenta o desafio do coronavírus”.
Será a primeira vez que os 22 líderes da região se reúnem desde o início da pandemia de COVID-19, com o objetivo de articular soluções concretas para a recuperação nas áreas econômica, social e meio ambiental.
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