A existência e a evidência de uma lacuna de gênero no acesso ao financiamento, assim como outras desigualdades que as mulheres sofrem por razão de gênero, centraram o debate organizado pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), a Fundação Microfinanças BBVA (FMBBVA) e a Secretaria-Geral Ibero-americana (SEGIB) em Madri, sob o título “Mulheres ao leme: três décadas de progresso e desafios na igualdade de gênero”. A desculpa: o marco do 30º aniversário de Pequim, um ponto de inflexão na luta pela igualdade de gênero.
Trinta anos de avanços… e uma lacuna que não se fecha
Os números demonstram que, embora o caminho percorrido em três décadas tenha sido importante, ainda é insuficiente: 119 milhões de meninas seguem sem ir à escola, 10% das mulheres no mundo vivem em pobreza extrema e, se nada mudar, levaremos 137 anos para fechar a lacuna de gênero, segundo a ONU Mulheres
Quanto ao mundo laboral, as Nações Unidas lembram que o contexto segue sem ser favorável para as mulheres: 51% dos países ainda têm leis que as impedem de acessar certos empregos, e na América Latina, uma em cada duas mulheres segue fora do mercado de trabalho. Na Espanha, também há caminho por percorrer: aqui, a porcentagem de iniciativas lideradas por homens com um capital semente superior a 100.000 euros duplica a das mulheres, segundo o Escritório Nacional de Empreendedorismo (ONE).
Durante o ato, o Diretor da AECID, Antón Leis, lembrou a importância de seguir impulsionando o empoderamento feminino: “A proteção e promoção dos direitos das mulheres e das meninas é uma prioridade da AECID e da Cooperação Espanhola, que se define como uma cooperação feminista. O empoderamento político, econômico e social das mulheres não é apenas uma questão de justiça para com 50% da humanidade, mas um poderoso motor de desenvolvimento, prosperidade e bem-estar para todos e todas”.
“É imprescindível reforçar políticas públicas que promovam o emprego digno e o acesso ao financiamento, assim como outras destinadas a ampliar sua participação nas instâncias de decisão tanto política como empresarial. Mas, se realmente se quer avançar, é preciso ter a vontade política de colocar as mulheres no leme político e impedir – a todo custo – que ocorram retrocessos ou inclusive, tentativas de anular avanços em políticas públicas e na legislação que favorece as mulheres.” Assim destacou o Secretário-Geral Ibero-Americano, Andrés Allamand.
No evento, no qual também foram tratadas as lacunas digitais, a necessidade de formação, o menor acesso ao financiamento e as violências digitais que as mulheres sofrem por razão de gênero, participaram um par de mulheres apoiadas pela Fundação, duas histórias de sucesso nas quais as microfinanças se tornam ferramentas de desenvolvimento.
“As mulheres precisam de acesso ao financiamento, à formação e a redes de apoio para poderem empreender e seguir adiante. Na Fundação, comprovamos que, quando as apoiamos com serviços financeiros, seus negócios crescem 15% e metade sai da pobreza em 3 anos. Apostar nelas é apostar no progresso de todos”, apontou Laura Fernández Lord, responsável de Sustentabilidade, Igualdade e Inclusão, da FMBBVA, uma entidade que atende 1,7 milhão de empreendedoras vulneráveis em cinco países da América Latina.
A reunião para sublinhar os muitos avanços que ainda faltam para alcançar essa igualdade concluiu com a intervenção de Ana Mª Alonso, embaixadora em Missão Especial para a Política Externa Feminista, que sublinhou o papel-chave da Espanha na cooperação internacional pela igualdade. “O feminismo é um Estado avançado da democracia”, concluiu, recolhendo uma frase das intervenções anteriores.
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