Mulheres no comando: avanços e desafios para a igualdade de gênero nas empresas na Ibero-América

A Secretaria-Geral Ibero-Americana apresenta um estudo sobre a representação de mulheres nos órgãos de decisão de 11 países da região.

Presentación del Informe - Mujeres en consejos de administración

A Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB) apresentou hoje um relatório intitulado “Participação das Mulheres nos Conselhos de Administração das Empresas Ibero-Americanas Cotadas”. Nele, analisa a presença de mulheres em conselhos de administração e em cargos de direção de empresas listadas em 11 países da região (Colômbia, Espanha, Brasil, Venezuela, Chile, Argentina, México, Peru, Portugal, Uruguai e Equador).

Desigualdade persistente e disparidades entre países

De acordo com o texto, assinado por Mónica Chao, Elena Galante e Arturo Jiménez, as mulheres representam 25,3% dos membros dos Conselhos de Direção (CD) e 29,7% nos Comitês de Administração (CA), o que evidencia uma lacuna significativa na representação de mulheres nesses espaços de decisão. No entanto, os dados mostram diferenças marcantes entre os países analisados, especialmente entre os países latino-americanos e os europeus.

Enquanto Espanha e Portugal lideram a representação feminina com 39,45% nos CA, a Venezuela ocupa o último lugar com apenas 5,36%. A média europeia é de 37,8% nos Conselhos de Administração, bem acima da Ibero-América, que não supera 17,9% em média.

Entre os países destacados em termos de representação feminina, a Espanha lidera com 39,5%, impulsionada pela legislação de cotas obrigatórias que exige 40% de mulheres nos Conselhos de Administração das empresas cotadas. Portugal vem em seguida com 31,8%, também graças a políticas públicas voltadas à igualdade de gênero.

Por outro lado, países como Peru e Colômbia mostraram progressos notáveis. O Peru se destaca como o país com maior representação feminina nos Comitês de Direção, com 32,2%, enquanto a Colômbia lidera a região com 27,3% nos Conselhos de Administração.

Como dado positivo, vale destacar que 10 dos 11 países estudados possuem legislação em matéria de igualdade salarial; 8 com selos oficiais para empresas que implementam ações pela igualdade, e 2 incluem em suas leis a obrigatoriedade de implementar cotas que promovam o equilíbrio.

Durante a apresentação, o Secretário-Geral Ibero-Americano, Andrés Allamand, enfatizou o alto custo para a região da sub-representação de mulheres em cargos de liderança de empresas e a necessidade de promover medidas concretas para lidar com isso. “Fechar a lacuna de gênero é uma das maneiras mais eficazes de melhorar a competitividade de nossas empresas, de impulsionar o crescimento econômico, de aproveitar o talento da nossa gente e de construir sociedades mais justas e inclusivas às quais aspiramos.”

Para Mónica Chao, uma das autoras do relatório, “em um mundo onde a igualdade de gênero ainda está a mais de 130 anos de distância, este relatório representa um marco na Ibero-América, pois analisa rigorosamente, pela primeira vez, a presença de mulheres em Conselhos de Administração e de Direção em 11 países, combinando uma revisão bibliográfica e uma análise quantitativa de empresas líderes. A diferença é significativa: enquanto na Espanha e em Portugal as mulheres ocupam 37% dos postos nos Conselhos de Administração, na América Latina e no Caribe esse número mal chega a 17,9%. Reduzir essa lacuna é uma oportunidade estratégica, pois implicaria um aumento do PIB regional de quase 8% e uma lucratividade empresarial 21% maior.”

Avanços e medidas regulatórias

A análise destaca a disparidade nas políticas de igualdade entre a Europa e a Ibero-América. Enquanto a União Europeia lidera com regulamentações como a Diretiva (UE) 2022/2381, que exige 40% de representação feminina nos conselhos de administração até 2026, na Ibero-América as medidas são em sua maioria voluntárias e limitadas ao setor público. Isso se reflete nos dados: Espanha e Portugal, com regulamentações mais robustas, representam os maiores níveis de representação feminina em conselhos de administração, com números próximos a 40%, enquanto países como Venezuela e Argentina mostram participação abaixo de 15%.

Desafios na região: disparidades e falta de regulamentação

Na América Latina e no Caribe, persistem desafios significativos, como a falta de regulamentações eficazes e barreiras culturais que dificultam a inclusão de mulheres em cargos de liderança. Países como Argentina, Brasil e Venezuela apresentam os menores níveis de representação feminina, especialmente em Comitês de Direção. Na Argentina, por exemplo, as mulheres representam apenas 14,5% nos Conselhos de Administração, enquanto nos Comitês de Direção esse percentual cai para 5,9%.

Em contrapartida, empresas com presença significativa de capital público (com mais de 50% do capital em mãos do Estado) apresentam maior representatividade feminina, com 30,4% nos CA e 29,7% nos CD, em comparação com empresas estritamente privadas, que registram 24% e 21%, respectivamente.

Análise setorial: lacuna por indústria

O relatório também analisa a representação de mulheres em diferentes setores econômicos, mostrando que a inclusão feminina não é homogênea. Setores como serviços financeiros, seguros, bens de consumo e varejo estão na vanguarda, com representações femininas superiores a 30% em vários países. Em contraste, setores tradicionalmente dominados por homens, como a mineração e a energia, continuam apresentando os piores resultados, com representação feminina abaixo de 20% em muitos casos.

Conclusões

A análise mostra que os países ibero-americanos que fazem parte da União Europeia lideram na representação feminina. Espanha e Portugal demonstram com dados que as políticas públicas foram fundamentais. Na América Latina e no Caribe, embora países como o Peru se destaquem em comitês de direção, desafios significativos persistem, como a falta de regulamentações eficazes e barreiras culturais.

A análise revela padrões em comum e barreiras estruturais à representação feminina na governança corporativa. Entre os principais obstáculos: a falta de regulamentações obrigatórias, os estereótipos de gênero persistentes e a baixa adoção de medidas inclusivas em setores tradicionalmente masculinizados.
Fatores de impulso como a implementação de cotas de gênero em países europeus têm se mostrado eficazes. Em relação a estes, as evidências indicam que seu impacto é significativo quando acompanhado de mecanismos claros de supervisão e sanções.

As empresas que integram a igualdade de gênero como um eixo estratégico têm se mostrado propulsoras de mudanças. Estudos recentes mostram que empresas com mais de 30% de representação feminina em seus conselhos diretivos alcançam aumentos significativos em lucratividade e competitividade. Além disso, promovem uma cultura organizacional mais inclusiva, adaptável e inovadora, o que é fundamental em um ambiente empresarial global dinâmico. Esse impacto positivo ressalta a importância de promover práticas inclusivas não apenas como uma questão ética, mas também como uma vantagem estratégica.

Recomendações

O relatório foi apresentado na sede da Secretaria-Geral Ibero-Americana em um ato que contou com a presença dos autores do estudo: Mónica Chao, Elena Galante e Arturo Jiménez. A apresentação foi seguida por uma mesa redonda intitulada “As oportunidades da igualdade de gênero para a competitividade empresarial”, com a participação de Gabriela Moreno, CEO de Técnicas Reunidas; Maite Aránzabal, conselheira independente; e Rafael García Meiro, CEO da Aenor, moderados pela jornalista Gloria Lomana. A Secretária para a Cooperação Ibero-Americana, Lorena Larios, e o Secretário-Geral Ibero-Americano, Andrés Allamand, também acompanharam o evento.

 

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