TRIBUNA
Raúl Oliván
Diretor @ZGZActiva
SERIE: caminho ao #LABICCO nº3
O inconsciente coletivo da humanidade se constrói a partir de narrativas comuns, um conjunto de relatos universais que atuam como indutores da conduta a nível individual e como roteiros preestabelecidos na escala social. Por exemplo, em todos os tempos e em todos os lugares, o mito do herói (e da heroína) agiu como motor geracional, transformado nessa pulsão juvenil por iniciar uma viagem, seja física, teórica ou emocional; desde a aldeia, a família ou a zona de conforto; em direção ao ignoto e ao imprevisível do mundo exterior, mais além dos muros, onde aguardam sem dúvida, as aventuras que fazem com que a vida valha a pena… mas onde o herói também encontrará desafios que o enfrentarão a seus medos e seus limites; em forma de obstáculos e inimigos, que poderá vencer graças a novos aliados e armas mágicas que encontrará no caminho; gerando uma tensão de forças contrárias que nos ajuda a interpretar e sintetizar o mundo de forma binária: os bons e os maus, a luz e a escuridão, os oprimidos e os poderosos…
De algum modo muitos dos jovens pensam neles mesmos – inconscientemente – como esse herói anônimo e diletante que aparece nas primeiras cenas de tantos filmes ou romances, fazendo tentativas e negociando contrários, para iniciar a viagem da sua vida. Como as 120 pessoas que participarão no próximo LABIC (Laboratório de Inovação Cidadã) durante duas semanas em Cartagena (Colômbia). Chegarão desde a Amazônia ou do Altiplano, da aldeia, do bairro ou da favela, desde suas universidades ou das suas oficinas mecânicas; para participar em um processo de aprendizado mútuo, experimental e aberto, de desenho e protótipo de um projeto de Inovação Cidadã. Formarão grupos interdisciplinares de dez pessoas, cada um com seus poderes mágicos (artistas, engenheiros, comunicadores, makers…). Terão um objetivo: derrotar um monstro (um problema social, um desafio público). E para isso terão de inventar uma arma mágica (uma app, uma web, um protótipo, um serviço…).
No entanto, em todo bom relato do herói e da heroína, falta-nos um personagem, um aliado chave: o mentor. A palavra vem de um personagem da Odisséia chamado precisamente de Mentor, ao qual Ulisses confiou a tutela de seu filho Telêmaco, antes de partir para Troia, e que acabou se convertendo em tutor e acompanhante das viagens do jovem herói Telêmaco…
O mentor é quem aconselha, mas não dirige, quem guia, mas não lidera, quem acompanha e reforça. Quem inspira sem dar todas as soluções, porque prefere formular novas perguntas.
A SEGIB pediu-me que escrevesse sucintamente sobre a figura do mentor nos LABIC, e não pensei em melhor forma que falar de heróis, viagens, armas e monstros. O mentor é quem aconselha, mas não dirige, quem guia, mas não lidera, quem acompanha e reforça. Quem inspira sem dar todas as soluções, porque prefere formular novas perguntas. O mentor não derrota o monstro nem presenteia a arma mágica, o mentor pergunta quem é realmente o monstro ou qual é a necessidade de usar a arma. O mentor ensina a pensar de modo diferente…
Ou ao menos isso é o que tentaremos Rodrigo Savazoni, Cinthia Mendonça, Andreiza Anaya e eu mesmo durante o próximo LABIC.
Por último, para completar a viagem do herói, com certeza se perguntarão: – Qual é o final do relato? Como acaba a história? O final, a meta, como em toda viagem épica, não é a vitória em si, pois não sempre se pode ganhar. Um Laboratório é tentativa, experimentação, ensaio e erro… às vezes, inclusive, derrota. O indefetível final não é outro que voltar ao ponto de partida, à pequena aldeia de onde saiu cada herói e cada heroína, com a bagagem da aventura em sua memória, com novas habilidades e novas amizades adquiridas, e principalmente, com uma nova forma de entender e atuar no mundo. O final do relato não é um “FIM”, senão um “CONTINUARÁ” que augura inesgotáveis e lendárias aventuras.
*LABICCO é a 3ª edição do LABIC (anteriores foram LABICMX em 2014 e LABICBR em 2015), e este ano vai ser organizado pelo Projeto de Inovação Cidadã da SEGIB e o Ministério da Cultura da Colombia, com a colaboração do Medialab-Prado, AECID, Fundação Ford e a Fundación Unidos en Red.
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