A cooperação que faz Ibero-América

A região enfrenta os desafios imediatos do continente, como salvaguardar os direitos humanos dos migrantes e apoiar as comunidades de acolhida

Coluna originalmente escrita para o jornal El País, 26/10/2019

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As protestas contra a mudança climática protagonizadas por dezenas de milhares de jovens em todo o mundo, inspirados pela ativista sueca Greta Thunberg, não só despertaram a consciência ambiental a nível global, senão que, além disso, confrontaram todos os setores da sociedade com a urgência de atuar já.

Logicamente, o cuidado do meio ambiente não é o único grande desafio que a humanidade enfrenta hoje; também aspiramos a erradicar a pobreza e assegurar o bem estar, a prosperidade e a inclusão de todos.

Refiro-me aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas. Estas ambiciosas metas foram aprovadas em 2015, porém desde então o mundo esteve distraído com outros temas, pelo quê, esgota-se o tempo para cumpri-las: restam apenas dez anos.

Nesta corrida contrarrelógio, urge recuperar o espírito e a ambição de mudança que tivemos ao aprovar os ODS e re-energizar a cooperação internacional com alianças multinível e multiator, governos nacionais e locais, sociedade civil, a academia e o setor privado. Só assim poderemos impulsionar e financiar as grandes transformações que as pessoas reclamam.

Um bom exemplo do caminho a seguir é a cooperação ibero-americana, 22 países cooperando em âmbitos tão diversos como a cultura, a coesão social, a educação, a ciência e a tecnologia, a nova economia e o mundo digital, que mostrou uma forte liderança em seu esforço por melhorar a vida de milhões de pessoas e fazer frente aos desafios da região.

Com o lema “Somos Ibero-América. Somos cooperação”, nestes dias se celebra a Semana da Cooperação Ibero-americana em todos os cantos da nossa região- para que os cidadãos conheçam o que conseguimos cooperando entre todos, respeitando nossas diferenças, mas baseando-nos em potentes valores comuns que partilhamos; a aposta pelo diálogo, o multilateralismo, a solidariedade e a paz.

O ruído de fundo não deve nos distrair do que é urgente e essencial, de nosso esforço por construir alianças solidárias

Essa diversidade e esses valores comuns nos permitiram desenvolver uma cooperação muito ativa e dinâmica, na qual os países colaboram em temas concretos para inovar e produzir resultados palpáveis, sempre com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como referência.

Tão robusta é nossa colaboração que, hoje, a Ibero-América é considerada uma potência mundial em Cooperação Sul-Sul, aquela que se dá entre países como iguais em busca de soluções concretas aos desafios do desenvolvimento.

No entanto, isso não é tudo: hoje 27 programas e iniciativas de cooperação ibero-americana beneficiam muitíssimos cidadãos de maneira concreta.

Penso no Programa Ibero-americano sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que busca uma maior inclusão dos quase 90 milhões de pessoas com deficiência que vivem em nossa região; no programa Ibermedia, que ajudou milhares de cineastas a contar nossas histórias, em nossas línguas comuns e nas línguas indígenas; no Iberorquestras Juvenis, que através da música resgatou numerosos jovens da exclusão social ou os demais programas ibero-americanos nos quais os jovens representam 70% dos beneficiários. Ou nos bancos de leite humano, que nutriram quase 2 milhões de recém-nascidos.

Outro aspecto importante para a Cooperação Ibero-americana é poder fazer frente aos desafios imediatos da região, como é salvaguardar os direitos humanos dos migrantes e apoiar as comunidades que os recebem.

Recentemente oferecemos nosso apoio ao Plano de Desenvolvimento Integral para a Centro América e, junto ao governo do México, melhoramos a infraestrutura e os serviços básicos de quatro centros de acolhimento de migrantes em Tapachula, no sulista estado mexicano de Chiapas, perto da fronteira com a Guatemala. 

A cooperação ibero-americana, solidária, horizontal e flexível oferece um modelo baseado em alianças que gera resultados e acelera a consecução da Agenda 2030.  O ruído de fundo não deve nos distrair do que é urgente e essencial, de nosso esforço por construir alianças solidárias para que nossos cidadãos e cidadãs vivam melhor e em harmonia com o planeta.

Em definitiva, trata-se de pensar em novos modelos de cooperação e alianças que nos aproximem às metas 2030 e não deixem ninguém para trás.

E a Ibero-América oferece um exemplo.

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