Sob o lema “Unir-se. Atuar. Eliminar”, a 30 de janeiro se comemora o Dia Mundial das Doenças Tropicais Desatendidas (ETD), um grupo diverso de 20 doenças preveníveis e tratáveis que afetam mais de 1.650 milhões de pessoas em todo o mundo. Estas prevalecem nas zonas mais pobres do planeta, onde a disponibilidade de água segura e saneamento, e o acesso à atenção sanitária são deficientes.
Entre as ETD destaca a doença de Chagas, uma doença que afeta de 6 a 8 milhões de pessoas no mundo e, cada ano, causa mais de 12.000 mortes. Esta doença é endêmica em 21 países das Américas e tem uma grande prevalência na Argentina, na Bolívia e no Brasil. Com respeito às áreas consideradas não endêmicas, a doença está presente em todos os continentes, sendo os Estados Unidos e a Espanha os países com maior número de pessoas afetadas.
“O caminho mais apropriado para diminuir o impacto das ETD é fortalecer os sistemas de saúde e incluí-las nas atividades realizadas para favorecer o acesso à atenção das pessoas vulneráveis. É importante recordar que as ETD são sempre evitáveis e, se não chegam a ser evitadas, em grande medida podem ser tratadas”, afirma Marcelo Abril, diretor executivo de Fundação Mundo Saudável, membro de Uniting to Combat NTDs e secretário técnico da Iniciativa Ibero-americana Nenhum Bebê com Chagas.
A iniciativa “Nenhum bebê com Chagas, o caminho para novas gerações livres de Chagas” foi aprovada em 2021 na Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo de Andorra. Ali, os países ibero-americanos comprometidos com a cooperação internacional em saúde, e especificamente com as pessoas afetadas pela doença de chagas uniram-se com a finalidade de contribuir com a eliminação da transmissão materno-infantil da doença desde uma abordagem multidimensional, fortalecendo os sistemas de saúde em matéria de prevenção, o diagnóstico oportuno, o tratamento e o seguimento da doença de Chagas, com ênfase nas mulheres em idade fértil, grávidas e recém nascidos.
“Esta Iniciativa, desenvolvida no marco da Secretaria-Geral Ibero-americana (SEGIB), potencia as capacidades dos países membros, fomentando a cooperação para o controle da doença de Chagas”, sublinha Martín Rivero, Coordenador da Área de Coesão Social da SEGIB. Ainda, agrega Rivero, “é um exemplo de cooperação horizontal entre os países que conformam o espaço ibero-americano que está permitindo outorgar visibilidade, potencializar ações e facilitar o intercâmbio de experiências e de práticas na abordagem da doença de Chagas. Esta ação regional conjunta será um fator chave para eliminar as barreiras que persistem no acesso aos sistemas e serviços de saúde”.
Em 2024, a Iniciativa propõe como prioridade a realização de intervenções territoriais que brindem acesso a diagnóstico e tratamento da doença de Chagas a uma população estimada em 5,5 milhões de pessoas, das quais 1,2 milhões são mulheres em idade fértil, e uns 87.800 recém nascidos ao ano. Estas populações correspondem, entre outras, às seguintes áreas: Chaco, Santiago del Estero e Salta (Argentina), Manaus, Barcelos e Carauari (Brasil), Santander, Tolima e Cundinamarca (Colômbia); Jalapa e Chiquimula (Guatemala) e Porto Casado no Alto Paraguai (Paraguai).
Sobre o Dia Mundial das Doenças Desatendidas
A data, que recorda a apresentação da Declaração de Londres sobre as ETD firmada em 2012, insta governos e líderes mundiais a atuar em conjunto e investir nas doenças tropicais desatendidas para pôr as pessoas e as comunidades no centro da resposta, gerar atenção coletiva e dispor de recursos necessários para cumprir os objetivos descritos no roteiro da OMS para as ETD 2030 e o ODS3.
Entre os objetivos é proposta a eliminação de, ao menos, uma doença em 100 países e reduzir em 90% o número de pessoas que requerem intervenções para as ETD.
Desde 2012, 50 países eliminaram, ao menos, uma ETD, demostrando que é possível avançar. Em 2020, 600 milhões de pessoas a menos necessitaram intervenções contra as ETD do que em 2010. No entanto, durante algum tempo, a falta de recursos foi considerada uma barreira importante para o controle, a eliminação e a erradicação das ETD. Este desafio não fez mais do que se intensificar com a COVID-19, que provocou graves atrasos e interrupções nos programas de ETD, assim como uma enorme reutilização e desvio de recursos.
Representantes dos países que integram a Iniciativa Chagas.
Sobre a Iniciativa Ibero-americana
A Iniciativa Ibero-americana Nenhum Bebê com Chagas está conformada pelo Brasil, Argentina, Colômbia, Espanha, El Salvador, Guatemala, Honduras e Paraguai como países aderentes plenos. Ainda assim, conta com a participação da Secretaria-Geral Ibero-americana (SEGIB) como plataforma de apoio aos programas e iniciativas Ibero-americanos, a Fundação Mundo Saudável (Unidade Técnica da Iniciativa), o Centro Nacional de Microbiologia do Instituto de Saúde Carlos III da Espanha, além de representantes dos países que formam parte de sua comissão consultiva como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Panamericana da Saúde (OPS), o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) e a Iniciativa Medicamentos para Doenças Esquecidas (DNDi).
A Iniciativa trabalha com a liderança dos Ministérios de Saúde dos países participantes, os quais promovem ações de coordenação intersetoriais com instituições e sócios de referência neste tema. Também tem conformado redes de trabalho e especialista ibero-americanos para sistematizar boas práticas e experiências, desenvolvendo ações de sensibilização e visibilidade desta doença em forma transversal e inclusiva nos diferentes âmbitos de intervenção.
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