Columna originalmente escrita para o jornal El País, 21/09/18
A princípios de setembro a Amazon, a gigante tecnológica estado-unidense que acaba de se converter na segunda companhia da história avaliada em mais de um bilhão de dólares, abriu seu terceiro “supermercado inteligente”. Como bem sabemos, a Amazon não entra em um mercado no qual não possa causar uma disrupção. A Amazon Go é a primeira loja sem caixas nem balconistas. Através de câmaras infravermelhas, sensores eletrônicos e algoritmos de aprendizagem profunda, a Amazon sabe quais artigos foram levados pelos seus clientes ao sair pela porta e cobra-os de sua conta bancária no ato.
Mais além de ser um avanço tecnológico extraordinário, há aqueles que veem a chegada da “loja inteligente” como uma ameaça para as nossas economias. Nos Estados Unidos, por exemplo, os dois empregos mais comuns são precisamente os de caixa e balconista. O que acontecerá com estes trabalhos se os supermercados inteligentes se tornarem a regra e não a exceção?
A lista de ocupações que, segundo os pesquisadores, poderiam deixar de existir aumenta diariamente, produto da Quarta Revolução Industrial. Estima-se que, no mundo desenvolvido, entre um terço e a metade de todos os empregos são suscetíveis de ser automatizados nos próximos 25 anos. Na América Latina, onde os trabalhos costumam ser mais intensivos em mão de obra e, portanto, mais automatizáveis em princípio, esta cifra seria inclusive mais alta.
Há aqueles que afirmam que estes números são demasiado alarmistas: o crescimento econômico sempre foi fruto da inovação e da substituição de trabalhos velhos por novos, daquilo que Joseph Schumpeter chamava a “destruição criativa”. No entanto, a discussão agora é sobre se “esta vez é diferente”.
A Quarta Revolução Industrial nos coloca frente a um mundo cujo signo principal é a mudança constante e, as economias que melhor se adaptarem a esta realidade ultrapassarão aquelas que não o fizerem. Por isso, a Ibero-América não tem mais opção que ser parte da mudança e assumir os desafios que acarreta: investir mais em inovação e pesquisa, ter infraestruturas para o século XXI, fazer a transição à economia digital, abrir as instituições às transformações, e ser criativos e empreendedores.
A Quarta Revolução Industrial nos coloca frente a um mundo cujo signo principal é a mudança constante e, as economias que melhor se adaptarem a esta realidade ultrapassarão aquelas que não o fizerem.
Quero me deter em três aspectos essenciais. O primeiro é entender que a disrupção terá efeitos diversos em distintos grupos e gerações. Não será igual para quem hoje vai à escola, cresceu no mundo digital e está habituado à mudança, do que para aqueles que atualmente se encontram em risco de perder seu emprego, pouco antes de sua idade de aposentadoria. Haverá um período de transição no qual muitas pessoas se verão desprotegidas. Devemos afiançar nosso compromisso com elas e projetar políticas públicas que respondam à disrupção.
Por outra parte, temos que atualizar nossas instituições. Nossos sistemas de representação coletiva estão ancorados no século XIX e meados do XX, uma época em que as pessoas não costumavam mudar de empresa, em que havia grandes indústrias, poucos trabalhadores autônomos e nem se suspeitava que algum dia existiriam os “nômades digitais”. Necessitamos modelos de representação que conciliem trabalho e família, que nos ajudem a combater a informalidade laboral e incorporem jovens e mulheres, que são as principais vítimas do desemprego.
Por último, devemos investir mais em nossos trabalhadores, abandonando a ideia de que só se aprende na escola e apostando por uma educação contínua e nos espaços de trabalho. Uma educação que nos ensine a educar-nos, a mudar com a mudança e a ser parte dela. Assim não perderemos o ritmo, nem seremos substituíveis. Tenho certeza de que, na economia do futuro, grande parte dos novos empregos virão não só das “STEM” (siglas em inglês de Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemáticas), senão também dos serviços: a saúde, a educação, os cuidados, o entretenimento e as indústrias criativas. Trabalhos insubstituíveis que darão um salto qualitativo em direção à economia digital e aumentarão sua produtividade para que os empregos sejam melhores, não piores. Por isso insisto em que devemos nos preparar. E fazê-lo vendo as oportunidades, não só os riscos.
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