Madri, 20 de junho de 2022 – “Apesar da conjuntura adversa, há razões para ser otimistas: a Ibero-América pode se converter em uma das regiões do mundo com maior potencial pós-Covid-19”. Assim se destaca no estudo ‘Por que a Ibero-América’, elaborado pelo Conselho Empresarial Aliança pela Ibero-América (CEAPI) e apresentado hoje em um ato que contou com a presença da ministra de Indústria, Comércio e Turismo, Reyes Maroto; o secretário-geral ibero-americano (SEGIB), Andrés Allamand; a presidenta do CEAPI, Núria Vilanova e o autor do relatório, o diretor de Estudos e Pesquisa do CEAPI, Germán Ríos.
A análise, que aprofunda nas variáveis econômicas e sociais da região e em sua evolução antes, durante e depois da pandemia, define os principais desafios que a região aborda na atualidade e ressalta suas principais fortalezas em momento de incerteza, marcada pela pós-pandemia e, nos últimos meses, pela guerra da Ucrânia. Uma atualidade complexa da qual a região pode emergir como alternativa à crise alimentar suscitada pelo conflito; em protagonista de um novo modelo energético baseado nas renováveis e em opção fiável para renovar as cadeias de provisão globais.
O documento identifica a riqueza em recursos naturais como a principal oportunidade que a região pode aproveitar em um momento crucial de aposta por economias sustentáveis e ‘verdes’ e de luta contra a mudança climática. Assim, a análise aponta que os países da América Latina albergam até 85% das reservas mundiais de lítio (mineral chave para a fabricação de baterias e em auge pela crescente demanda de carros elétricos) e possui 40% da biodiversidade e 33% da água doce do planeta.
‘Por que Ibero-América’ vislumbra a chegada de um novo ‘super-ciclo’ de matérias primas como o que aconteceu no período 2004-14, que insuflou um importante vento de popa às economias regionais. Nesta ocasião, este ciclo vem impulsionado pela restrição da oferta de muitas commodities por considerações meio ambientais, e pelo pujante crescimento econômico e demográfico em países como a Índia (com o consequente aumento da demanda de bens e serviços), o que aumenta o potencial dos países latino-americanos como alternativa global.
Além disso, o estudo ressalta a recuperação do comércio eletrônico durante a pandemia, que chegou para ficar, como outro foco de possível crescimento para a região. A indústria do e-commerce global, que alcançou picos sem precedentes durante os meses de confinamento, precisa um forte e urgente desenvolvimento de sua infraestrutura e requererá investimentos que envolverão “uma maior demanda de bens básicos como ferro, aço, cobalto, platino, prata, cobre e outros metais”. Uns recursos que abundam na área, “o que poderia converter a Latino América em um dos principais provedores”.
Além disso, a indústria tecnológica se posiciona como outra das factíveis pontas de lança do crescimento econômico regional. Se bem a Espanha e Portugal destacam em termos de digitalização e automatização, os países latino-americanos são hoje alguns dos mais dinâmicos do mundo em matéria de investimento em startups digitais. Nesta linha, o estudo indica que, no ano passado 15.336 milhões de dólares de investimento de capital de risco fluíram para a região (mais que o que foi recebido na década prévia), com um domínio especial das Fintech e o comércio eletrônico, que aglutinaram mais de 64% do capital de risco.
As empresas, agentes de mudança
A análise ainda mantém um importante foco no papel desempenhado pelas empresas ibero-americanas de ambos os lados do Atlântico -e sua estreita colaboração- em face à consecução de todas as oportunidades potenciais que a região tem atualmente. E denomina o setor privado regional como agente de mudança “dinâmica e socialmente responsável”. “Não menos importante, existe um setor privado dinâmico, em processo de internacionalização e consciente dos desafios sociais e de sustentabilidade da Ibero-América. E do seu papel no novo contrato social pós-pandemia”, indica.
Neste sentido, destaca a posição da Espanha como segundo investidor na Latino-América, só por trás dos EEUU, com uma média de IED anual que supera os 12.000 milhões de dólares. As empresas espanholas são, por sua vez, as líderes europeias em investimento em novos projetos na América Latina, assim como as responsáveis pelo maior número de fusões e aquisições na região desde a Europa.
Durante a apresentação, a ministra Reyes Maroto enfatizou que “os laços econômicos e comerciais entre a Espanha e a Ibero-América são uma fonte de prosperidade compartilhada para ambas as partes. Com um saldo comercial equilibrado, a Espanha exporta mercadorias para a Ibero-América por valor de 15 bilhões de euros ao ano pela mão de mais de 100.000 empresas exportadoras e é um dos principais investidores na região, com uma posição investidora que alcançou os 172 bilhões de euros em 2019”.
Para a responsável da carteira de Comércio, “graças aos fortes laços culturais e econômicos que nos unem, a Espanha opera como plataforma de investimento internacional na Ibero-América, canalizando também os investimentos procedentes de outros países para a região”. Maroto sublinhou que “desde o Governo da Espanha estamos reforçando nossos vínculos econômicos e comerciais com a Latino-América como sócio de referência para as empresas espanholas”, e concluiu destacando que as previsões indicam que a economia ibero-americana crescerá nos próximos anos, mas é necessário aplicar boas políticas econômicas e apostar pelo crescimento justo e sustentável.
Por sua vez, o secretário da SEGIB, Andrés Allamand, enfatizou o valor que representa o fato de a Ibero-América ser uma comunidade com identidade própria, construída a partir de valores, cultura, história e línguas comuns com a riqueza, o potencial e as oportunidades necessárias para se sobrepor aos desafios do presente. “Agradeço, além disso, o reconhecimento que se faz neste relatório ao papel que a SEGIB desempenhou e deverá continuar desempenhando no desenvolvimento da Ibero-América e reafirmo nosso compromisso com a promoção da região em todas suas vertentes, e muito especialmente, nas iniciativas que, como o trabalho que hoje apresentamos, contribuam a traçar a rota rumo à prosperidade de todos aqueles que habitam nossa região” assinalou Allamand.
Por sua parte, Núria Vilanova, presidenta do CEAPI, sublinhou o papel da Espanha como “ponte para os investimentos”. Neste sentido, indicou que “continua havendo oportunidades crescentes de investimento na América e a Espanha tem uma posição de vantagem nestas, já que serão muito necessárias nos âmbitos da energia solar e eólica -onde o país conta com uma grande experiência-, infraestruturas ou criação de centros de produção. Nesta linha, o nearshoring já é uma realidade e é necessário criar centros para abastecer os grandes mercados que representam os Estados Unidos ou a Europa”.
Ainda, a presidenta do CEAPI insistiu no papel crucial da Espanha “na recepção de investimentos de outros países, não só para ficar no país, senão para se constituir como plataforma de internacionalização. Um claro exemplo disso são os investimentos em FCC, OHLA, grupo VIPS, Campofrío e tantas outras, que aceleraram ainda mais seu crescimento não só na Espanha, senão principalmente, nos Estados Unidos, no resto da Europa e no Oriente Médio”. Vilanova concluiu sua intervenção aplaudindo o labor “das empresas que fazem o bem fazendo negócio”, incidindo em que são estas as que “de verdade podem mudar a sociedade, quanto mais crescem, mais transformam. Empresas comprometidas com o meio ambiente, com a sociedade e com a governança”.
Mais educação superior, mais esperança de futuro
Outra das grandes oportunidades e “vantagem da Ibero-América com a visão posta no futuro” detectada pelo estudo é o crescente número de estudantes matriculados em educação superior, uma cifra que bate recordes anualmente desde 2010 (com um crescimento anual de 4%) e que promete impulsionar a produtividade laboral da região a médio e longo prazo. Empurrado pelo bônus demográfico da região (a maioria de seus países conta com populações majoritariamente jovens), o aumento do número de graduados universitários está contribuindo notavelmente a aumentar a mobilidade social e a reduzir as desigualdades laborais, dois dos grandes obstáculos regionais, especialmente nos países latino-americanos.
Assim, se bem a Ibero-América foi uma das regiões do planeta que mais se ressentiu a nível socioeconômico pelo golpe da pandemia, com contrações do PIB em 2020 de 7% na Latino-América, 11% na Espanha, 8% em Portugal e 12% em Andorra, também é uma das que mais oportunidades alberga para um crescimento mantido e sustentável a futuro.
Deste modo, mais além das principais janelas de oportunidade detectadas pelo estudo do CEAPI, este documento também assinala a importância para o crescimento da região da consolidação majoritária de suas democracias; os avanços experimentados nas últimas décadas em igualdade de gênero e diversidade, assim como o dinamismo econômico mostrado por seus principais sócios comerciais, os Estados Unidos e a China, países que se prevê, cresçam a um ritmo de 3,7% e 4,4% em 2022, contribuindo a escorar a recuperação da região.
Por tudo isso, a Ibero-América conta com os ingredientes adequados para alcançar uma posição destacada no desenvolvimento econômico global das próximas décadas, especialmente em setores estratégicos como o agroalimentar, o das energias renováveis, o das infraestruturas, o do turismo sustentável ou o da tecnologia celular aplicada ao negócio.
Sobre o CEAPI:
O Conselho Empresarial Aliança pela Ibero-América, CEAPI, é uma associação formada por 190 empresários, presidentes das empresas líderes ibero-americanas, cuja missão é valorizar o papel do empresário e seu impacto na sociedade, promovendo o compromisso social e a sustentabilidade.
O CEAPI tem a vocação de contribuir a fazer mais Ibero-América e promover relações de confiança entre os empresários para fazer crescer e fortalecer o tecido empresarial ibero-americano. Como think tank, refletimos sobre os desafios e oportunidades da região, fomentando o diálogo com os líderes políticos e institucionais, buscando enriquecer a colaboração público-privada e dando cabida às novas gerações e ao papel fundamental da mulher no desenvolvimento das empresas e da sociedade atual. Para mais informação: www.ceapi.com e www.congresoceapi.com
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