A Ibero-América se posiciona na ONU contra a violência digital contra as mulheres

O projeto, cujos resultados serão apresentados em um relatório nas próximas semanas, identifica que 1 de cada 5 postagens em X contra mulheres na esfera pública é violenta.

No âmbito da 69ª Sessão da Comissão sobre a Condição Jurídica e Social da Mulher (CSW69), o PNUD, a SEGIB e a Iniciativa Ibero-Americana para Prevenir e Eliminar a Violência contra as Mulheres (IIPEVCM) informaram sobre uma iniciativa conjunta para criar evidências e mostrar a violência digital sofrida pelas mulheres. Trata-se de um projeto que busca oferecer recomendações para prevenir as violências digitais sofridas pelas mulheres e fortalecer sua presença na esfera pública.

O projeto, Prevenir a violência digital contra as mulheres no contexto ibero-americano, consta de diferentes fases e teve início com a realização de uma escuta assistida por inteligência artificial para monitorar os perfis nas redes sociais de mulheres com perfil público de oito países ibero-americanos (Andorra, Bolívia, Espanha, México, Panamá, Portugal, República Dominicana e Uruguai) que fazem parte da IIPEVCM.

Além disso, foram selecionados 350 perfis (aproximadamente 50 por país) de mulheres políticas; defensores e ativistas de direitos humanos, jornalistas e outras áreas da vida pública e todas as interações que elas receberam durante um mês na rede social X foram monitoradas. O objetivo: identificar se foram alvos de violência simplesmente por serem mulheres. Após esse estudo, foi identificado que 1 de cada 5 postagens (de um total de um milhão analisadas) continha conteúdo violento.

Foram analisados ​​até cinco tipos de violência digital e todas as mulheres cujos perfis foram analisados ​​receberam pelo menos 3 ameaças violentas diretas durante o mês analisado. A continuação, algumas das evidências:

  1. Subestimação de capacidades. Em média, 12% das interações dos 8 países analisados ​​mostram comentários que direta ou indiretamente menosprezam as capacidades, os conhecimentos ou a credibilidade das mulheres analisadas.
  2. Ataques ideológicos. 11% das mensagens coletadas contêm ataques de caráter ideológico, e em países como Bolívia e Espanha, esta cifra sobe para 34% e 17%, respectivamente.
  3. Comentários alusivos ao corpo e à sexualidade das mulheres, com uma média de 2%.
  4. Ataques à identidade. Comentários ou discursos que atacam as mulheres com base em sua raça, etnia, orientação sexual, gênero, deficiência ou outras dimensões de diversidade, com uma média de 1%.
  5. Ameaças. No total, foi contabilizada uma média de 3 ameaças recebidas por mulher durante o período analisado.

Os detalhes do trabalho serão apresentados em um relatório a ser publicado no final de abril.

“Este projeto, realizado em parceria com o PNUD e a Iniciativa Ibero-Americana para Prevenir e Eliminar a Violência contra as Mulheres, demonstra o compromisso da SEGIB em criar instrumentos para apoiar a eliminação da violência contra as mulheres e o avanço da agenda de gênero nos países da região, e promover uma visão transformadora que não deixe ninguém para trás”, afirmou a Secretária para a Cooperação Ibero-Americana, Lorena Larios, durante o seu discurso na CSW69.

Recomendações para reduzir a violência digital contra as mulheres

Silvana Balsa, Secretária Técnica da IIPEVCM, destacou como fortalecer a resposta à violência digital com marcos regulatórios sólidos, facilitar um acesso efetivo à justiça, oferecer uma educação digital com perspectiva de gênero e maior responsabilidade de empresas e Estados na sua prevenção e sanção são algumas das principais recomendações de políticas públicas que serão incluídas no relatório integral.

O objetivo: alcançar espaços digitais seguros, inclusivos e com perspectiva de gênero, conforme estabelecido na Carta Ibero-Americana de Princípios e Direitos em Ambientes Digitais, aprovada na Cúpula Ibero-Americana de 2023 pelos 22 Chefes de Estado e de Governo da região.

O evento, realizado durante a 69ª sessão da CSW – um espaço estratégico para influenciar a agenda multilateral e estabelecer marcos globais que promovam a igualdade de gênero – é um espaço fundamental para o desenvolvimento dos direitos das mulheres, 30 anos após a adoção da Declaração de Pequim. Nele, também participou a Ministra da Igualdade da Espanha, Ana Redondo, que ressaltou a necessidade de alianças globais diante de “um compromisso histórico para não deixar as nossas filhas em um mundo pior, nem mesmo nas redes sociais”.

“O progresso da igualdade na América Latina e no Caribe veio acompanhado pela consolidação democrática, avanços sociais e épocas de prosperidade econômica. Apostar nas mulheres tem sido fundamental nesse processo, tornando a região a mais democrática em desenvolvimento. No entanto, a região, embora livre de guerras, é a mais violenta do mundo, e a violência contra as mulheres continua sendo um desafio estrutural. Uma maior participação política se refletirá em políticas mais inclusivas, e os espaços digitais também serão ocupados”, enfatizou Michelle Muschett, Diretora Regional do PNUD para a América Latina e o Caribe. “No PNUD, reiteramos que vocês não estão sozinhas. Trazemos à mesa a nossa capacidade analítica e a habilidade de gerar soluções integradas que conectem compromissos globais com prioridades nacionais”, acrescentou.

A Ministra da Mulher da República Dominicana, Mayra Jiménez; a Deputada Federal Mexicana, Anaís Burgos; a ativista mexicana Marcela Hernández Oropa e a ativista brasileira Roberta Braga também visibilizaram os prejuízos que estas violências causam às mulheres em termos de participação pública e política, liberdade de expressão e segurança. Eles também lembraram como esse tipo de violência, dada sua natureza digital, se prolonga no tempo, atravessa fronteiras e se amplifica por algoritmos em detrimento de sociedades justas, igualitárias e seguras.

SEGIB en la CSW69

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