Compromisso com o desenvolvimento inclusivo

Os homens e as mulheres de negócios da Ibero-América comprometeram-se a tornar realidade a Agenda 2030 através de um acordo que tem quatro grandes repercussões para nossa região.

Coluna originalmente escrita para o jornal El País, 25/11/2018
RAFAEL RICOY
RAFAEL RICOY

Enquanto todas as câmaras e olhares eram focadas na XXVI Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, que teve lugar no hotel Santo Domingo de La Antigua (Guatemala) a 15 e 16 de novembro, a poucos quilômetros sucedia outra reunião não menos transcendental.

Mais de 700 empresários, representantes do mais alto nível de numerosos setores econômicos e países, congregavam-se no Encontro Empresarial para selar seu compromisso com o desenvolvimento inclusivo e sustentável na Ibero-América. Uma vontade que ficou plasmada no documento de recomendações e conclusões do qual vários parágrafos foram incorporados –junto aos outros aportes que recebemos das comunidades indígenas, as reuniões ministeriais, e demais atores de nosso sistema multinível— à Declaração de Guatemala firmada por nossos mandatários um dia depois. Um fato que quiçá poderia passar inadvertido, mas cuja importância ao olhar atento não escapa.

Pois, mais além do êxito da convocatória, mais além do compromisso social e ambiental, mais além do olhar ao futuro de cada um dos painéis (sobre inovação, transformação digital, sustentabilidade e empoderamento das mulheres) da participação de Sua Majestade, o Rei Felipe VI, cinco presidentes e uma vice-presidenta, este Encontro Empresarial representou um avanço muito importante nos consensos da nossa região.

Pela primeira vez o tecido empresarial e institucional da Ibero-América acordou, explicitamente, para trabalhar com um mesmo roteiro: a Agenda 2030. Um acordo que não ficou só no ‘quê’ devemos fazer, senão que propôs em linhas concretas de ação o ‘como’, juntos, podemos avançar e responder ao chamado dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Uns objetivos que requerem que voltemos a crescer a 5-6% e que dependem de um esforço coletivo imenso de parte de todos os setores da sociedade.

Os homens e as mulheres de negócios da Ibero-América comprometeram-se a tornar realidade a Agenda 2030 através de um acordo que tem quatro grandes repercussões para nossa região.

Primeiro: foi reafirmado o princípio de que a prosperidade é interdependente da inclusão e da sustentabilidade; do fato de que nenhum empreendimento é sustentável se não incorpora e reflete a sua sociedade; de que ter um ecossistema empresarial saudável implica ter melhores MP&MES, mais pessoas com acesso ao crédito, mais diversidade, mais empoderamento econômico de mulheres, mais jovens comprometidos e menos informalidade.

nenhum empreendimento é sustentável se não incorpora e reflete a sua sociedade

Segundo: foi assumida a urgência de preparar nossas empresas para a economia do futuro, apostando na economia digital, nas start-ups, no comércio intrarregional, na inovação, em educar e descortinar o talento de nossa cidadania e no investimento em infraestruturas e logística.

Terceiro: foi enfatizada a ideia de que a política importa. De que para que nosso tecido empresarial prospere é necessário que a institucionalidade funcione; que advogue por uma macroeconomia estável, respeite as regras do jogo, seja mais transparente, facilite a criação de empresas e lute contra a corrupção para recuperar a confiança da cidadania.

E quarto: foi colocado em valor algo do quê, como ibero-americanos devemos nos sentir orgulhosos – nosso modelo de integração. Uma integração de baixo para cima que se aprofunda e é construído pelas pessoas, os agentes econômicos, as cadeias de valor, as mobilidades; que eleva consensos e não os decreta desde cima. Uma integração que vai a par com outros processos que também estão sucedendo, como a Aliança do Pacífico e sua convergência com Mercosul, a integração do empresariado centro-americano e o projeto de tratado com a União Europeia. Um modelo que nos reflete e é, em definitiva, nosso.

A Agenda 2030 conseguiu que a Ibero-América transcenda uma visão maniqueia ou dicotômica entre setor público e privado. Fez que nos aproximemos a um paradigma no qual a todos os países lhes importa ter uma cidadania ativa e propositiva e no qual os empresários consideram que uma política estável e transparente, junto a uma sociedade que novamente confia em projetos comuns, são requisitos para conseguir a prosperidade.

Às vezes a história se escreve deste modo: entre linhas. Em simples, mas significativos atos de consenso. Em um aperto de mãos que simboliza uma mútua dependência, uma responsabilidade partilhada. Em uma assinatura final que tem visão de futuro e se preocupa pelas necessidades das pessoas.

Assim somos na Ibero-América. Nutrimo-nos dos consensos de uma região tão diversa como a nossa. Nossa fortaleza é a amplidão de nossa integração. Uma integração que a Agenda 2030, em seu imenso potencial para fomentar alianças, já está enriquecendo em vigor e eficácia.

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